África: do neocolonialismo à verdadeira independência
De acordo com
uma pesquisa realizada pela Comissão Económica das Nações Unidas para a África
(CEA): estima-se que, são cerca de 50 bilhões de dólares que viajam cada ano,
ilicitamente da África, para na maioria das vezes, os países ocidentais. Nos
últimos 50 anos, a África teria perdido pelo menos um trilhão de dólares. Cerca
de 75% dos recursos que partem da África ilicitamente provêm de diversas fontes
como a evasão fiscal e a falsificação dos preços praticada por empresas
multinacionais (cuja a grande maioria está baseada no G7); mais também do ônus
da dívida; do imposto colonial que é reclamado às ex-colônias; das redes
criminosas envolvidas no tráfico de drogas e tráfico de seres humanos, da caça
furtiva e da pilhagem de recursos naturais, da madeira, do petróleo, dos
minerais, da flora e da fauna. Apenas 5% dos fluxos financeiros ilícitos são
atribuídos à corrupção do governo, como o pagamento de subornos aos
funcionários do governo, por empresas estrangeiras. Isso para que os países
africanos abram mão do controle de seus recursos naturais e das operações de
extração de recursos.
Estes fundos
poderiam ter sido usados para melhorar as condições de vida da população
africana, garantir as infra-estruturas essenciais (educação, condições
sanitárias, nutrição, água potável, saneamento, alojamento, energia,
fornecimento de electricidade, comunicação,
transportes, estradas) e outros imperativos de desenvolvimento.
Patrice Lumumba (1925-1961), um dos heróis do movimento pela emancipação
dos povos africanos, era uma das figuras emblemáticas da luta anticolonialista.
Ele foi assassinado, quando aconteceu o golpe de Estado em 1961. Um anos atrás
(agosto 1960), em seu discurso na Conferência Pan-africana em Leopoldville,
Patrice Lumumba tinha declarado:
Os colonialistas não se importam com o
bem-estar da África. Eles são apenas atraídos pelas riquezas que ela oferece e
suas ações são guiadas pelo desejo de preservar os seus próprios interesses,
contra a vontade do povo africano. Para os colonialistas, todos os meios têm
sidos bons para tomar conta dessas riquezas.
Ironicamente
e infelizmente, em demasiadas ocasiões, os governos africanos, os quais
deveriam promover a emancipação dos povos africanos e o desenvolvimento do
continente, estão apenas reproduzindo a mesma dinâmica tóxica, que já tanto
prejudicou os africanos que cresceram na África durante a época colonial. Isso
tem que acabar.
Tenhamos a
coragem de enfrentar a realidade e de chamar as coisas pelos nomes. A África
tem todos os recursos necessários para oferecer riqueza, crescimento, empregos
e uma vida melhor aos africanos. No entanto, A África sofre de muita miséria e
pobreza: o seu povo está morrendo não só de fome, mas também de doença. Isso
deve-se à sede da ganância, e à falta de moralidade política e de humanismo de
seus líderes. É urgente que os governos africanos tomem consciência e comecem a
agir para aliviar esse sofrimento da maneira mais rápida, e eficaz possível.
A necessidade de ter organizações e instituições confiáveis, independentes
e eficientes.
De acordo com
as nossas experiências com as crianças e as populações mais vulneráveis da
África; com a realidade palpável no terreno de sistemas corruptos e repressivos
onde as vozes críticas são impedidas de se exprimir, e com a nossa colaboração
com organizações no sector do desenvolvimento: se tornou evidente que as
respostas aos problemas mais prementes em África devem vir dos mais afetados -
isto é: dos africanos. Estes problemas requerem soluções políticas e não
soluções de caridade.
Hoje, mais do
que nunca, a África necessita
organizações e instituições confiáveis, independentes e eficazes que
atuem claramente para: eliminar os sistemas existentes de injustiça que acionam
golpes de estado - em um momento em que mudanças significativas estão para
ocorrer - que alimentam a violência e a guerra com o objetivo de proveitos
financeiros, aproveitam da ajuda humanitária para apoiar regimes despóticos,
perpetram genocídios, derrubam governos, orquestram eleições de presidentes
submissos -com apenas um papel servil- a fim de impor o imposto colonial e uma
moeda colonial às ex-colónias.
Isso exigirá
esforços coletivos e integrados de organizações poderosas, confiáveis e
fortes para denunciar e combater as profundas injustiças sistêmicas que
permitem que potências estrangeiras -com a participação deliberada de governos
passivos e complacentes- roubem artefatos e obras de arte, saqueiem recursos
naturais, patrocinem grupos rebeldes, enviando mercenários estrangeiros para
espalhar o medo e o terror, incitem ao deslocamento de populações e destabilizem os países
africanos. Ainda assim, todas essas injustiças permanecem impunes.
Essas
questões políticas e sociais profundamente ancoradas não serão resolvidas com
uma estratégia única ou alguma abordagem de tratamento uniforme, mas sim pelos
esforços individuais e coletivos de muitos que trabalham juntos perseguindo um
mesmo objetivo.
Nós, como
parte do povo africano e do continente, estamos em um ponto chave de nossa
história e precisamos fazer escolhas cruciais e tomar medidas rápidas e
decisivas que terão um impacto direto na vida de milhões de crianças, no
continente africano. Por isso, nenhum de nós pode continuar a ficar de fora por
mais tempo.
Hoje, mais do
que nunca, existe uma lacuna clara e urgente de organizações e instituições
credíveis, independentes e eficazes. As quais usarão plenamente a sua
influência e farão o máximo para falar clara e francamente sobre a necessidade
dos líderes políticos garantir que o povo africano possa assumir de forma
absoluta o seu país e o seu próprio destino. Isso, a fim de melhorar as suas
condições de vida e assim construir um futuro melhor para si próprios, e para
os seus filhos, sem interferências estrangeiras ou elementos predatórios
disfarçados em alguma ajuda ao desenvolvimento.
A necessidade de implementar políticas ousadas.
Thomas Sankara (1949-1987), um herói revolucionário e líder visionário (assassinado em um golpe de estado em 1987, durante seus esforços para libertar e desenvolver a África), declarou com eloquência:
Thomas Sankara (1949-1987), um herói revolucionário e líder visionário (assassinado em um golpe de estado em 1987, durante seus esforços para libertar e desenvolver a África), declarou com eloquência:
A
nossa revolução não é um torneio de discurso público. A nossa revolução não é ma batalha de frases bem sonantes. Não é simplesmente lançar lemas que não são
nada mais do que sinais usados por manipuladores que tentam recuperá-los como
slogans de campanhas, como frases codificadas,
para finalmente promover a sua própria exibição. A Nossa revolução é, e
deve continuar a ser, o esforço coletivo dos revolucionários para transformar a
realidade, para melhorar de maneira tangível a situação do povo do nosso país.
Embora ele
tem sido presidente do Burkina Faso por apenas quatro anos (1983-1987), Thomas
Sankara lançou um dos programas mais ambiciosos da África em termos de
transformação económica e social nas áreas de alfabetização, saúde pública, igualdade dos géneros, emancipação das mulheres, instalações,
emancipação econômica, segurança alimentar, conservação ambiental, alterações climáticas,
luta contra a corrupção e alívio da dívida. E tudo isso, sem nenhuma
assistência externa.
Thomas
Sankara era um líder transformador, altruísta e incorruptível. Ele tinha a
capacidade de partilhar uma visão clara e de traduzi-la em linhas concretas de
ação para melhorar a vida do povo de Burkina Faso. Ele também tinha a
capacidade de antecipar e de lidar com as questões em relação ao
desenvolvimento que poderiam impactar as gerações futuras.
De fato, o
continente africano seria poderoso se os seus líderes políticos, os quais usam
o engano para controlar as massas e se enriquecem com a miséria das pessoas que
afirmam servir, fossem movidos pelo patriotismo e pelo humanismo, e se as
políticas governamentais fossem realmente de interesse público.
Em todo o
continente africano, há uma necessidade urgente de levantar políticas ousadas
para enfrentar os problemas de grande pobreza, isto é :a fome, as doenças, o
analfabetismo, mas também a poluição da água e do ar; as moradias sórdidas, o
alto nível de mortalidade infantil e a baixa expectativa de vida.
Temos
constatado que as organizações de base não aceitaram o desafio no passado.
Muitas organizações de caridade se orgulham de sua neutralidade e não se
envolvem na política. Tentar resolver os problemas existentes sem começar pelas
raízes é contraproducente. Não podemos continuar a aceitar injustiças
fundamentais enquanto tentamos atenuar as conseqüências destas mesmas injustiças.
Nós podemos e
devemos fazer melhor do que já tem sido feito, porque, como organizações de
base, nós temos a oportunidade e a obrigação de pressionar os governos para que
estes últimos efetuem as tão esperadas mudanças. Precisamos entregar uma
mensagem firme em favor da reforma e da responsabilidade política. Portanto, é
preciso que essa responsabilização comece com os governos, para que as nossas
belas palavras sobre os valores da independência, democracia e autodeterminação
se traduzam em ações concretas, produzindo assim resultados práticos tanto para
as crianças como para o povo do continente africano.
Nosso
principal objetivo com o House of Mercy
Children’s Home, em Lagos, na Nigéria (HOM) é ser um motor para uma mudança
positiva. Continuaremos a desafiar as percepções e as práticas existentes e a
defender as políticas ousadas que atuam em termos de proteção às crianças,
produção de alimentos, acesso à água potável, educação, saneamento e cuidados
básicos de saúde.
Isso para que
a próxima geração e as vindouras possam viver em uma África que seja muito
melhor do que a atual.
Chamada para ação
Esta chamada
é uma resposta não violenta à pobreza e à injustiça. Para superar os desafios
que enfrentamos: todos nós devemos fazer a nossa parte.
1. Espalhe a notícia!
Nosso artigo África: do neocolonialismo à verdadeira
independência está disponível em inglês, francês e português nos seguintes
endereços: http://africa-wake-up.blogspot.fr,
http://afrique-reveille-toi.blogspot.fr e https://africa-acorda.blogspot.com
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2. Junte-se à luta pela
mudança social
Juntos,
independentemente da nossa tribo, etnia, religião, diferenças regionais ou
afiliação política: vamos erguer nossas vozes e pedir aos governos africanos
que estabeleçam roteiros claros e agendas políticas para lidar com os problemas
urgentes que nossos países estão enfrentando.
Faça ouvir
sua voz ser ouvida até que os legisladores, membros do parlamento, funcionários
do governo federal, estadual e municipal e outros elaboradores de políticas
elaborem e implementem uma política apropriada e abordem as questões da
pobreza, desnutrição (incluindo infantil), trabalho infantil, abuso e
negligência de crianças, doença, analfabetismo, poluição do ar e da água, da
alta taxa de mortalidade infantil e da baixa expectativa de vida.
Acreditamos
que, juntos, nossas vozes serão ouvidas
e que nossos esforços para sensibilização vão se traduzir em realidades
concretas, como o acesso aos cuidados de
saúde, educação básica, água potável, à alimentação adequada e uma vida melhor
para as crianças e famílias em todos os países da África.
3. Mostrar solidariedade
com nossos compatriotas
A mudança
social exige não apenas medidas e decisões políticas, mas também uma mudança
radical de nossa maneira de pensar e agir.
Perante a
situação da pobreza extrema sofrida por muitos de nossos compatriotas, todos
nós devemos demonstrar solidariedade e ajudar as pessoas que se encontram em
grande necessidade.
4. Seja um agente de
mudança social
Finalmente,
devemos continuar discussão entre nós, mas também com as nossas comunidades,
participando de debates nacionais e locais, para expressar nossas opiniões e
promover os valores da integridade, tolerância, amor ao próximo, respeito da
vida humana, dever cívico e do patriotismo.
Sejamos a
partir de agora considerados como uma nova geração de africanos com uma
mentalidade diferente, que surgiu para mudar o curso da história, e para apagar
a vergonha da escravidão, do colonialismo, do apartheid, mas também da pobreza,
fome e doença!
Olhemos para
o futuro com a confiança de um povo que sabe que, apesar das grandes tragédias
que marcaram a sua história, o melhor da África ainda está por vir.
Bunmi
Awoyinfa
A House of
Mercy Children’s Home, em Lagos (HOM), é uma organização de defesa de políticas
ousadas que promovem o bem-estar das crianças e aceleram o desenvolvimento
sustentável. A HOM está ativamente envolvida em várias ações humanitárias para
crianças e famílias em situações de emergência em toda a África,
particularmente no Chifre da África, no Sahel, na República Democrática do
Congo, na República Centro-Africana, no Nordeste da Nigéria e em países
afetados pelo Ebola.
Tenha
cuidado! Cuidado com as fraudes por falsa caridade e
falsas chamadas para doações. Todas nossas atividades de caridade são dirigidas
desde nosso escritório principal em Lagos, na Nigéria. De
fato, nós não possuímos escritórios no continente Africano. Portanto, cuidado
com os eventuais escritórios fictícios ou agentes falsos.
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